terça-feira, 30 de outubro de 2012

A DESTRUIÇÃO DO ESTADO SOCIAL


 

TEM A PALAVRA O PS: OU ROMPE COM ESTA POLÍTICA OU AS CONSEQUÊNCIAS SERÃO AS MESMAS

A partir de agora já não são legítimas as dúvidas. Houve quem durante o debate sobre a intervenção da Troika tivesse entendido que havia exagero e irrealismo nas posições defendidas pela esquerda. As coisas não seriam como a esquerda as pintava, dizia-se então.

Infelizmente confirmaram-se todas as previsões: com a intervenção da Troika estava em causa o Estado Social nas suas diversas vertentes, como muito bem se sabia e como tinham obrigação de saber todos os responsáveis políticos do famoso “arco do poder”. Bastava terem estudado as intervenções do FMI em outros continentes, a partir de meados da década de oitenta.

Mas se era exigir muito àqueles responsáveis políticos o conhecimento dessas intervenções em países e em populações que não lhes suscitavam a menor solidariedade, já não se compreende que não tivessem imediatamente entendido as consequências politico-económicas das políticas draconianas que a Alemanha estava a impor aos países europeus intervencionados, de facto ou de direito.

É certo que as forças estrangeiras e antidemocráticas que ditaram o condicionalismo do “resgate” contaram em Portugal com um apoio e um proselitismo inexistente em qualquer outro país da Europa. Mas não haja ilusões. Essa vontade de ir além da Troika e esse fanatismo ideológico que levou o Governo e os partidos que o apoiam a tentar construir, partindo do programa da Troika, um modelo económico-social completamente diferente do que antes existia, acompanhado da destruição de toda a economia inserida na famosa “má oferta”, apenas configura o crime de traição, mas não altera nada do que de essencial sempre se passaria com mais ou menos colaboração, com mais ou menos entusiasmo - o resultado seria sensivelmente o mesmo, como se está a ver na Grécia e se verá também em Espanha se não mudar rapidamente de rumo.

A especificidade portuguesa está em tudo se ter passado, e estar a passar, com um incrível cinismo e laivos de grande perversidade. Mas mesmo sem essa perversidade estaríamos hoje, ou daqui a uns meses, a discutir exactamente o mesmo que agora está em agenda: a destruição do Estado Social.

Em Portugal, recordando a quem tem fraca memória, a perversidade consistiu em Governo numa primeira fase (iniciada em 2011) ter optado pelo combate ao défice externo, reduzindo drasticamente a procura interna mediante um agravamento dos impostos sobre o trabalho. No ano seguinte (ou seja, no ano em curso), manteve essa política, pela via do confisco de ordenados e pensões, bem como da redução das prestações sociais em geral e de cortes de despesa na Educação e na Saúde, além, evidentemente, do congelamento do investimento público e do agravamento dos impostos indirectos. Eliminando grande parte da “má oferta” e lançando voluntariamente no desemprego centenas de milhares de pessoas bem como empurrando para a falência milhares de empresas, o Governo, para cumprir integralmente este seu primeiro objectivo, vai decretar em 2013 um enorme aumento de impostos com vista a consolidar a redução do défice externo e a eliminar o que resta da “má oferta”.

Cumprido este objectivo, o Governo vai tentar atacar o segundo: reduzir o défice fiscal (orçamental) para cumprimento das metas fixadas pela Alemanha. Que medidas vai o Governo adoptar para o alcançar? Reduzir drasticamente as despesas sociais, nomeadamente a Saúde e a Educação, sendo ainda de esperar alguma novidade retroactiva no domínio da Segurança Social. Com esta brutal redução de despesa, o Governo tenderá a reduzir o défice orçamental e destruirá o essencial do Estado Social.

Ora bem, é para a conclusão desta tarefa que Passos Coelho está convocando o PS. Apesar da resposta do PS ter sido aparentemente contundente: não conte o Governo com o Partido Socialista para rever a Constituição ou para destruir o Estado Social, com ou sem revisão constitucional, a verdade é que a posição do Partido Socialista não pode deixar ninguém descansado.

De facto, o PS parte de um erro de base que não poderá deixar de ter consequências futuras. O PS parte do pressuposto (errado) de que o Governo falhou. O Governo não falhou, o Governo está a cumprir escrupulosamente a “agenda escondida” com que se candidatou às eleições. Supor o contrário é admitir que a execução de um “programa de ajustamento” como o que foi imposto a Portugal poderia ter consequências substancialmente diferentes. Não podia. A única diferença é esta: enquanto o PSD/CDS executam com gosto e consonância ideológica um programa em cujas virtudes acreditam (mais Passos e Gaspar do que Portas), o PS executá-lo-ia contrariado e porventura com alguma reserva mental sem que daí decorressem consequências substancialmente diferentes.

Vale, por isso, a mesma conclusão de sempre: por esta via não há saída; supor que a “Europa” vai mudar ou que vai ser possível a médio prazo uma mudança na Europa é uma ilusão. E a longo prazo, como dizia Keynes, estamos todos mortos!

1 comentário:

O Eleitorado Morre Mas Não Se Rende disse...

in the long run we are all dead

keynes nunca diria que estávamos todos mortos ele nem era da fox news

elles é que estavam todos mortos

e acertou nem sobra um vivo...

excepto o manel de oliveira e o só ares que tinha uns 4 anos e picos em 1929

mas tirando esses e mais uns milhões deles

tão mesmo todos mortos

é só esperar mais 20 anos
Ano IPC Global (1981 =100) Variação Anual (Taxa de Inflação)
'1977 100,0
'1978 122,1 22,1
'1979 150,6 23,4
'1980 175,8 16,7
'1981 211,9 20,5
'1982 260,1 22,7
'1983 325,2 25,1
'1984 419,8 29,1
'1985 503,3 19,9
'1986 561,9 11,6
'1987 614,6 9,4

é só pôr 2014 em 1977

e 2024 em 1987....

em 2024 só temos 9,4% de inflação

infelizmente em 2024 já estamos todos mortos...

pega na catana e faz como o gajo de Beja e corta a família às postas
que ganhas 12 anos