segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

NOTAS DE FIM DE SEMANA

APONTAMENTOS

A dívida privada portuguesa – é um assunto de que não se fala. Os economistas do establishment não abordam o tema. Se solicitados, fogem dele a sete pés, não sem antes semearem uma série de falácias, do género é uma contabilidade difícil de fazer, muito do que é considerado privado é público e assim por ai adiante.
A questão tem todavia todo o interesse, porque a dívida privada esclarece melhor do que a pública as causas da situação a que se chegou.
A avaliar pelo que vem nos jornais, a mais escandalosa de todas as situações é a da EDP. Por todas as razões: porque continua a somar lucros e a distribuir dividendos à custa dos ónus que impõe à economia portuguesa. Depois, porque anualmente os seus executivos (e acólitos) recebem bónus ainda mais escandalosos do que os lucros com base no argumento de que “cumpriram os objectivos”. Grandes objectivos estes que endividam o país, fazem subir os juros da dívida pública, oneram todos os contribuintes, sacrificam os salários dos trabalhadores em geral e sobrecarregam as pequenas e médias empresas com custos de produção únicos na Europa.
Mas disto não fala Passos Coelho, nem os seus famosos economistas…

Passos Coelho: a raposa no galinheiro – Primeiro foi a negociação do orçamento, agora é a preparação do programa de governo – os tais “dossiers que Santana Lopes supunha que já estavam preparados para ser servidos… - e a seguir o que será? A ideia que fica é que ele está a meter a “raposa no galinheiro”…ou alguém, por ele, a pô-la lá.

Um artigo de João Cravinho Júnior no Público – "A nosa democracia e a deles". Interessante. E até seria mais se não tresandasse a oportunismo. Oportunismo de quem vem agora defender a relativização do conceito de democracia quando na prática política passada mais não fez do que alinhar acriticamente com as máximas anglo-saxónicas, políticas e económicas, com as quais se chantageava a maior parte dos países do terceiro-mundo, melhor dizendo aqueles que não tinham petróleo nem grande peso económico…porque esses estavam autorizados a ter ditadores e a não seguir à risca o “consenso do Washington”. Oportunismo ainda de quem percebe, como toda a gente, que o “chefe” meteu a “pata na poça” e vem agora, mostrando-se a la page com os eventos do sul, dizer…que se for preciso “varrer a testada” está aqui quem o possa substituir! Ao ouvir Cravinho Júnior dificilmente se pode esquecer aquele jovem egípcio que em entrevista à CBS, dizia, referindo-se aos ocidentais: “Por favor não se metam. Não precisamos de vós. Nem esquecemos que apoiaram o ditador durante trinta anos!”
O número 2000 do Expresso – Do Expresso guardo sempre três recordações: 1) a chegada do primeiro número à Guiné e a grande decepção por imediatamente se ter percebido que a grande aposta do jornal era em Spínola, personalidade acerca da qual os democratas, nomeadamente os que estavam em serviço na Guiné, não acalentavam qualquer ilusão; 2) o primeiro número depois do 25 de Abril onde a notícia da Revolução na primeira página não teria assim muito mais destaque do que uma inauguração de um qualquer festival canino por Américo Tomaz; 3) em terceiro lugar, a permanente intriga contra a Revolução e contra o 25 de Abril nos meses subsequentes.
Compreende-se: o Expresso tinha apostado noutra coisa. Numa coisa em que “eles” estivessem.

Wikileaks à portuguesa – Dos últimos textos vindos a público percebe-se, para quem não tinha percebido, que ao “Império” não lhe basta a fidelidade ideológica. O Império quer mais: e é por isso que pessoas com a mesma fidelidade ideológica são tratadas de modo tão diverso. Uns são fracos, outros são gastadores, mas há outros que são amigos…do peito!

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