quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A SELECÇÃO NACIONAL: A QUEM INTERESSA O CAOS?



QUEIROZ, MADAIL E OUTROS

É inevitável falar da selecção nacional. Arredada durante longos anos dos grandes palcos do futebol mundial, a selecção nacional habituou os portugueses nos últimos catorze anos a estar presente em quase todas as fases finais fases finais dos campeonatos da Europa e do Mundo. Nem sempre com bons resultados, é certo, como aconteceu na Coreia do Sul e agora na África do Sul, mas presente.
Face ao que se passou nos dois últimos jogos, a selecção portuguesa corre o sério risco de não estar presente no Euro 2012 tal como aconteceu, no Campeonato do Mundo de 1998, com Artur Jorge, como seleccionador.
As razões, num caso e noutro, são semelhantes. As escolhas dos respectivos seleccionadores não foram ditadas pela capacidade e competência de cada um, encaradas nas suas múltiplas valências, mas porque ambos beneficiavam do apoio ostensivo de “quem manda no futebol”. Este simples facto, mesmo que tivesse sido ditado pelas melhores e mais nobres razões – e a gente sabe que não foi – seria suficiente, à partida, para se criar à volta da selecção um clima de indiferença ou até de hostilidade da quase totalidade das pessoas que noutras circunstâncias a apoiariam com entusiasmo, mesmo não esquecendo que o público que se interessa pela selecção é um público muito mais vasto do que aquele que acompanha a vida dos clubes.
Carlos Queiroz, além de ter contra si este indesmentível facto, concita também, pela sua personalidade e capacidade técnica – arrogância, ausência de auctoritas incapacidade de “ler” o jogo, arbitrariedade nas escolhas, incapacidade de comunicar com o público, etc. -, uma generalizada antipatia que apenas poderia ser relativamente atenuada com um percurso quase cem por cento vitorioso.
Como não foi, nem se antevia que pudesse vir a ser, dadas as suas conhecidas limitações, Carlos Queiroz era, à partida, um seleccionador condenado.
Logo que a ocasião chegou – e a ocasião chegou com a prestação da selecção na África do Sul –, o povo do futebol em geral não teve qualquer dúvida em pedir a sua substituição. Não estava tanto em questão a classificação da selecção na África do Sul, como o modo pouco ambicioso e timorato como a alcançou.
Madail, que não sendo nenhum génio está longe de ser estúpido, terá percebido imediatamente que Queiroz não tinha futuro. Todavia, como é um dependente e tendo certamente em jogo interesses pessoais que quem está de fora tem dificuldade em quantificar, optou por manter Queiroz, certo de que o grupo de apuramento para o Euro 2012, sendo fácil, permitiria à selecção um percurso quase totalmente vitorioso, o que ajudaria a acalmar as coisas por mais dois anos.
Como no futebol as previsões ainda falham mais do que na economia, Madail enganou-se redondamente e, mesmo antes de os resultados terem acontecido, deparou-se com uma acusação grave feita ao seleccionador pela Autoridade Anti-Dopagem, que o obrigou a instaurar um processo disciplinar no quadro da conhecida autonomia de que gozam, no desporto, os movimentos associativos (como as federações) relativamente ao Estado.
Acontece que o órgão encarregado de instruir e decidir sobre o processo disciplinar, viciado em décadas de traficância desportiva, historicamente sujeito às mais diversas pressões e tendo atrás de si um cadastro de parcialidade e de dependência relativamente a quem o escolheu, não percebeu, estupidamente, que a matéria sobre que estava a tratar era uma daquelas – poucas – que o Estado não tinha entregado totalmente à auto-regulação das entidades desportivas.
Como o doping é uma questão de interesse público, relativamente à qual o Estado não abdica das suas competências preventivas, fiscalizadoras e punitivas, breve se percebeu que a “sanção” aplicada a Queiroz não passava de uma farsa porventura destinada a ser atenuada ou até revogada no subsequente órgão de recurso, que tem historicamente um cadastro porventura ainda mais lamentável do que aquele que decidiu em “primeira instância”.
Perante este facto, o Secretário de Estado do Desporto agiu: avocou a competência prevista na lei para os casos de doping e entregou o assunto à Autoridade Antidopagem, do Instituto do Desporto de Portugal. Não é lícito nesta matéria fazer juízos de intenção sobre a actuação do Secretário de Estado do Desporto. Quaisquer que tenham sido as suas motivações emocionais, elas são totalmente irrelevantes para o caso, já que com a sua conduta apenas se limitou a cumprir a lei.
É provável que o Secretário de Estado do Desporto, tendo-se apercebido do generalizado clima de antipatia relativamente a Queiroz e sentindo-se até apoiado pelas manifestações públicas de responsáveis políticos de todos os quadrantes, tenha actuado com toda a determinação, certo de que com a sua acção poderia também contribuir para resolver um problema que começava a tornar-se insolúvel.
Sim, é bom não esquecer que importantes personalidades políticas de todos os partidos passaram durante o Campeonato do Mundo, depois da eliminação de Portugal, pelos programas desportivos das televisões e todas, sem excepção, advogaram, com mais ou menos ênfase, o afastamento de Queiroz. Marques Mendes, por exemplo, foi absolutamente irredutível, assim como um deputado do CDS e outro do PS cujos nomes não recordo, bem como João Semedo (BE) e António Filipe (PCP), embora, tanto um como outro, com certa moderação.
Alias, é caso para perguntar, tendo em conta a importância, em diversos planos, da selecção para o país e para os portugueses em geral, se o Estado deve abdicar pura e simplesmente de ter uma palavra que aponte no sentido de escolhas e de comportamentos exclusivamente ditados pelo interesse da selecção, evitando ou impedindo que interesses espúrios da mais variada ordem – dos clubes, da rivalidade entre eles, dos empresários, das negociatas típicas do futebol, etc., etc., - prevaleçam contra o tratamento sério e competente de assunto que é cada vez mais de interesse nacional.

5 comentários:

Jorge Almeida disse...

Doutor Correia Pinto,

espero que não esteja a clamar pelo regresso de Scolari.

É que foi Scolari que, ao não ter ligado nenhum às selecções jovens enquanto esteve na FPF, descurou o futuro da selecção.
Quantas vezes as selecções jovens foram a campeonatos internacionais durante a estadia de Scolari? Nenhuma!
Como é que se quer ter uma selecção competitiva com este hiato?
Preparem-se para termos um período de jejum das competições internacionais de selecções seniores, muito por culpa de Madail e de Scolari.

Com Queirós como coordenador das selecções, isto já não aconteceu. Este ano, Portugal meteu os Sub 17 e os Sub 19 nas fases finais dos respectivos europeus. E com seleccionadores que já ouvi falar que entraram porque eram seus "amigos".

Nestes 3 anos em que está à frente das selecções, Queirós já fez mais pelo futebol nacional que Scolari no dobro do tempo. E isto parece que não está a interessar a ninguém ...

Para além disso, os clubes também são culpados. Quantas vezes vemos o FC Porto a jogar somente com 2 portugueses? E o SL Benfica só com 1? E o SC Braga, em Sevilha, quantos portugueses apresentou? Como é que se quer ter uma selecção nacional competitiva neste quadro?

Outra coisa: Acho que seria interessante recuar 3 anos, e lembrar o que os actuais críticos de Queirós diziam dele quando ele assinou contrato com a FPF.
Será que o Alzeimer estará assim tão disseminado no nosso país?
Os defeitos do homem não o acompanhavam já nessa altura? Claro que sim! Não estavam à vista? Claro que sim! Alguém falou? Poucos, quase nenhuns! No entanto, foi um erro contratá-lo? Não.
Pode não ser o melhor treinador do mundo em campo, mas o seu plano para revitalizar as selecções começa a dar frutos.
E esses são os resultados que interessam, não os imediatamente visíveis dos seniores. Sem boas fundações, não temos boas casas.
Espanta-me que o Dr., que nos habituou a análises a médio e longo prazo, não se tenha referido a isso.

Jorge Almeida disse...

Doutor Correia Pinto,

não leve a mal o meu último comentário. Peço desculpa se o ofendi, não era essa a minha intenção.

É que aproveitei para desopilar sobre o assunto, especialmente sobre a habitual inconsistência dos dirigentes e dos comentadores da nossa praça.

Claro que Queirós é culpado de não ter reagido bem à acção de controlo anti-doping.

Claro que a acção do Conselho de Disciplina da FPF teve uma acção inacreditável neste processo.
Mas o que é que se pode esperar dos órgãos sociais duma federação que não tem os estatutos adaptados à lei em vigor? E que castiga um clube com a descida de divisão só porque este decidiu apoiar um seu atleta na reclamação judicial dum mero caso de Direito Laboral (Gil Vicente e o Caso Mateus)?
Se tivessem vergonha na cara, demitiam-se!

Claro que Luís Horta não é a personagem mais consensual no desporto nacional. Basta ver a quantidade de notícias que aparecem na comunicação social sobre controlos anti-doping ao FC Porto quando este é o líder do campeonato, e a quantidade de visitas ao líder quando o FC Porto não está no 1º lugar. É só saber contar ...

Claro que Madail é o que está à vista! Veja lá que não assistiu aos jogos da selecção por questões de saúde, mas a saúde já lhe permite presidir à reunião de hoje da Direcção da FPF.

Claro que o Secretário de Estado é que o que é: Um boy! Só lhe conheço uma ocupação fora dos cargos políticos: Ter sido presidente do Fafe, curiosamente quando este beneficiou dum alargamento da 1ª Divisão para entrar nesta competição. Ainda hoje o Fafe anda a pagar as contas dessa aventura.

Mas querer obter resultados que, por acaso tem um dos melhores jogadores mundiais da actualidade nas suas fileiras, mas não tem banco com nivel internacional suficiente para fazer uma boa campanha, isso é inacreditável.

Estamos habituados a ver a selecção a apurar-se para estes campeonatos. Mas, graças à gestão Scolari, ou muito me engano, ou vamos ter um periodo de seca, pois este não cuidou do futuro a médio e longo prazo da selecção.

JMCPinto disse...

Não, de forma alguma. O comentário é livre. Eu nunca peço desculpa pelas minhas opiniões. Apenas dos factos, se me engano.
Tudo bem, portanto
CP

tuga2010 disse...

acho k chegou a hora de dizer-mos todos a verdade! e verdade k carlos queirós teve ou ñ ao dispor dele todos os jogadores portugueses?? logico k sim!e verdade ou ñ k teve todo tempo para preparar os jogadores para o mundial?? logico k sim!e verdade ou ñ k nunca jogou com a mesma ekipa em nenhum jogo do mundial? logico k sim! então pk e k nos portugueses temos k ter na nossa selecção um individu-o mau tecnicamente,mal formado,arrogante,prepotente,e k acha k tem o dom da palavra? ñ precisamos de um treinador k tem tudo na mão e so fez asneiras, levou jogadores subsalentes para todas as posições e nos jogos k eram todos decisivos andou a adptar um central de raiz para lateral drt. tirou o hugo almeida k estava a empurrar o adversario para dentro da sua pekena area e disse k ele estava cansado, kdo se verificou em declarações do mesmo o contrario. assim sendo, e perante todos os factos tais como nani e etc, carlos queirós saia da nossa selecção pk e uma persona no grata. veja tv e os inkeritos dos portugueses dizem em mais de 80% ñ a sua pessoa. ja chega!

V disse...

Admito que o Estado e nomeadadamente o secretário do dito tenham cumprido a lei e "defendido" o interesse público, mas quando isso sucede no mundo mafioso do futebol profissional é mera coincidência.
Não foi, com efeito, para defender interesses moral, cívica, social ou sequer desportivamente dignos de tutela que o Dr. Laurentino Dias foi indicado ao Engº Sócrates para secretário de estado.
V